A minha pesquisa de campo foi realizada na
comunidade de Pasta, distrito de Solonópoles, situada no Sertão Central do
Estado do Ceará, à 225km de Fortaleza.
A cidade de Solonópoles tem pouco mais de
17.000 habitantes. Originalmente denominada de Cachoeira do Riacho de Sangue,
posteriormente chamada Solonópoles, que significa cidade de Solón, em homenagem
a Manoel Solón Rodrigues Pinheiro.
A cidade possui cinco distritos: Assunção, Cangati,
Prefeita Sueli Pinheiro, São José de Solonópoles e Pasta. É neste último
distrito que estou dando início a minha pesquisa de campo.
No dia 03 de novembro de 2016 viajei para o
sertão com o intuito de concretizar a minha pesquisa. Primeiramente, liguei com
antecedência para minha família a fim de marcar o dia e o horário deste evento,
contando para este efeito coma permissão de todos.
A pesquisa se deu na forma de entrevista no
local supracitado, no dia 05 de novembro de 2016, às 20 horas, na casa do José
Soares Bezerra (primo), na presença de sua esposa, filhos e conterrâneos.
Como observadora pude perceber os traços
marcantes e característicos desse povo que luta à espera de sias melhores.
Alguns trazem no corpo as marcas do tempo, principalmente os mais velhos. Têm
mãos calejadas do “pau da enxada”, os pés são rachados do solo pedregoso, a
pele queimada do sol escaldante e um olhar cansado de pouca esperança.
Num breve relato descrevo-a participação de
todos numa longa história de sofrimento e perdas.
Os interlocutores são pessoas simples,
humildes, sofridas e de pouca instrução, moradores da zona rural que sobrevivem
da agricultura. São trabalhadores do campo que muito cedo madrugam para
garantir o sustento da família. Cuidam da plantação e do gado em meio a aridez.
Os entrevistados são do sexo masculino,
adultos com idade acima de 25 anos. Com exceção de uma única pessoa do sexo
feminino que foi de fundamental importância para a realização desta pesquisa.
Francisca Eliene da Silva Bezerra, contribuiu de forma enriquecedora e com
profundo conhecimento dos problemas locais.
Todos sobrevivem da agricultura, mas a falta
de chuva afeta em tudo na vida deles, pois, se não chove não se planta e não
plantando nada se tira de roçado. O que se colheu em 20 anos se destruiu nos
últimos cinco anos. Nada plantaram por falta de água e esta é que “dá força a
plantação”, assinalaram. É bem verdade que a falta d’água torna difícil o
desenvolvimento da agricultura e da pecuária e, com isso, a permanência desse
povo que praticamente sobrevive da agricultura de subsistência.
Na zona rural, a água potável é levada pelo
Exército, racionada em 20 litros de água por pessoa, que é utilizada para todas
as necessidades: no banho, no consumo, na comida e para lavar. É uma situação
de penúria como dizem eles “só sobrevivendo, vai-se escapando aos poucos”.
Todos dependem da água levada pela Defesa
Civil do Estado do Ceará, porém o seu abastecimento é irregular chegando a
demorar até 10 dias devido a demanda ser muito grande. A agua distribuída pelos
carros-pipa é do açude de Orós, mas existe aquele que se aproveita da situação
e traz água de lugares impróprios.
Nos primeiros anos dessa longa estiagem,
quando ainda tinha água nos rios e açudes, eles se precaviam plantando mais
capim e cana para armazenar e dar para o gado comer durante a seca. Também
faziam silos – elevadas ou subterrâneas construções destinadas ao armazenamento
e conservação de grãos secos, sementes, cereais e ferragens verdes para a época
da seca se ter.
Para conviver com os efeitos da seca eles
buscam mecanismos de qualquer jeito. Recorrem ao xique-xique, cortam-no, assam
os espinhos, passam no motor e dão a criação, pois segundo eles, a maior
preocupação é com os animais. Quanto aos mesmos, sobrevivem do que recebem do
governo: uns são aposentados, outros recebem o Bolsa Família ou o Seguro Safra.
“Essa é a ajuda para a agricultura tocar a vida”, frisam.
De acordo com o enfoque acima salientado o
Governo Federal ao longo dos anos vem criando uma série de programas sociais
visando transformar o Brasil em uma país sem miséria, aumentar a inclusão e
reduzir a desigualdade. Esses programas vêm beneficiando famílias pobres ou em
extrema pobreza com prejuízo em suas lavouras por conta da estiagem. Ainda que
programas como Seguro-Safra e Bolsa Família tenham atenuado as perdas dos
rendimentos das famílias, as ações implementadas não têm o alcance suficiente
para compensar os prejuízos na renda agrícola da região. Dentre as secas
ocorridas, todos são unânimes em expressar que a dos últimos tempos, de 2012
para cá, essas têm causado maior reflexo nas safras e na pecuária,
principalmente a deste ano, por que as anteriores, embora não chovesse tinha
água armazenada, como também nos rios e açudes podendo fazer uma vazante. “Nesta
seca (2016) não existe uma gota d’água, portanto, são cinco anos sem plantar e
sem colher e, cada dia só piorando”, padecem.
Para esses agricultores o que se produz não
tem valor, somente o que se compra. Se vendem o leito quem dá o preço é o
comprador e não aquele que vende. Então, se obrigam a vender barato para
comprar ração por um preço bem mais caro. O atravessador compra por um preço e
vende pelo dobro. Eles completam proferindo que “em época de seca se trabalha
para os outros”.
As dificuldades encontradas nessa seca,
acreditam serem bem maiores do que as já vivenciadas pelos seus antepassados. A
diferença das outras secas de proporções semelhantes é que antigamente o
agricultor para sobreviver saía de sua terra para trabalhar nas frentes de
serviços em construções de açudes, estradas e barragens (do contrário não
tinham o que comer), isso ocorreu nos açudes d Orós e Banabuiú.
Na opinião da maioria, nas secas anteriores
existiu fome, miséria e muitos morreram desnutridos. Os seus feitos foram de
grandes dimensões. Diferentemente do momento atual que “não passam fome, mas
necessidades e privações são muitas”. Já os jovens abandonaram a terra e vão
para a zona urbana em busca de melhores condições de vida.
A maior dificuldade enfrentada no dia a dia,
para todos, é a escassez de água. Os senhores mais velhos de 70 a 90 anos
comentam que nunca em 100 anos ouviram falar ou presenciaram os rios e açudes
secos. O açude Boqueirã que banha a região foi construído em 1915, tem mais de
100 anos que nunca havia secado e hoje encontra-se seco.
É lastimável o que está acontecendo e muito
mais triste é vê-los chorando. O pouco que restava não se tem mais. O rebanho
diminuiu vendendo por ninharia ou para não o ver morrer de fome, mata-o para a
sobrevivência. A falta de dinheiro é grande e as necessidades persistem.
As coisas já são difíceis para quem mora no
sertão, mas tendo água eles ressaltam que “sabem se virar e tocar a vida”.
Porém, a falta desta existe ainda, a má vontade política, pois nada tem sido
feito se não uma ajuda emergencial sendo de maior urgência abertura de poços,
pois os poucos que existem foram cavados pelos próprios agricultores nas suas
propriedades. Se chegam verbas para o combate da seca, estas são extraviadas
para outras finalidades beneficiando um pequeno grupo de fazendeiros.
A maior consequência deste fenômeno para
todos, além da falta d’água, é não ter para comer no sentido de que tudo que se
come vem de fora, ou seja, não produz mais nada, então se veem obrigados a
comprar. Acrescentam ainda que pela idade que têm de 50 a 60 anos nunca haviam
comprado para o consumo, pois quando tinham tanto vendiam como davam à família.
Hoje a precisão é geral.
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